domingo, 20 de fevereiro de 2011

FARMACÊUTICO ATUANDO EM GRUPOS DE APOIO TERAPÊUTICO

 
Os medicamentos, apesar de serem utilizados para produzir resultados positivos, se não utilizados de maneira adequada podem trazer danos a saúde. Isto ocorre devido a falhas em farmacoterapia, fenômenos que podem ser, em sua grande maioria, previsíveis e passíveis de prevenção. As intervenções que podem resultar em prevenção destas falhas podem ser feitas individualmente ou coletivamente. A Grupo Terapia tem se mostrado útil em situações em que pessoas apresentam problemas semelhantes, e com seu alcance coletivo, passa a ser uma importante ferramenta nas estratégias de promoção a saúde.

Podemos definir grupo como “um conjunto restrito de pessoas que, ligadas por constantes de tempo e espaço, e articuladas por sua mútua representação interna, se propõem de forma explícita ou implícita à realização de uma tarefa, que constitui sua finalidade, interatuando para isso através de complexos mecanismos de adjudicação* e assunção** de papéis”. Isto reflete principalmente na possibilidade de trocas de experiências sobre um determinado tema, que pode levar ao melhor entendimento de um dado problema, ou o encorajamento para enfrentar uma dada situação, apresentada por uma pessoa que vivencia tal problema, e não apenas pela visão acadêmica  de um profissional da saúde.
*Adjudicação = entregar a outro o que é seu
**Assunção = assumir o que é dos outros para si

CARACTERISTICAS DE UM GRUPO TERAPÊUTICO

Grupos Terapêuticos são reuniões em que a característica principal refere-se às Partes de inter relacionam. São muito mais que um somatório de indivíduos, mas uma identidade com regras próprias e um objetivo comum e que apresenta interação afetiva. Quem lida com grupos tem que ter em mente que o grupo não é local de depósitos de informações, mas sim de construção da cidadania,

TIPOS DE GRUPOS TERAPÊUTICOS

  • Fechado: Não aceita a participação de novos membros, devido a construção de intimidade e identidade forte.
  • Aberto: Qualquer um pode participar
  • Homogêneo: Só admite assuntos relacionados com o propósito que levou a criação do grupo (a doença em comum, por exemplo)
  • Heterogêneos: Aceita qualquer tipo de assunto.

DESENVOLVIMENTO DE TEMAS

  • Expositivo: Somente o apresentador do tema fala do assunto. Recomendado quando se vai abordar um tema mais complexo, que exige uma opinião especializada e livre de mitos ou sensos comum.
  • Psico drama: Representação teatral que pode contar com a participação dos membros do grupo. Recomendada para tratar de assuntos delicados que poderiam constranger alguns membros do grupo.
  • Debate / Intercâmbio: Estimulo ao debate e a troca de experiências. Ideal para a o compartilhamento de pessoas que lidam a muito tempo com determinada doença, e possuem saberes práticos sobre o tema.
  • Dinâmicos / Atividades manuais – motoras: Trabalhos manuais visa promover a diversão e o aprendizado do grupo de uma nova atividade.

PLANEJANDO UM GRUPO TERAPEUTICO NA LÓGICA DOS CUIDADOS FARMACÊUTICO

1. Definição do Tema

O tema pode ser decidido em conjunto ou pelos profissionais. Pode se relacionar com datas comemorativas, acontecimentos recentes, ou fatos marcantes para o grupo, que estejam relacionados ao tema dos medicamentos. Assuntos como adesão, modo correto de utilizar, automedicação são de trato obrigatório nestes grupos.


O planejamento é a etapa crucial para a atividade, e o objetivo deve ser claro e conciso, atendendo as necessidades do grupo. Deve ser elaborado de forma que responda ao seguinte questionamento: Ao final do encontro, os participantes devem obter informações e trocar experiências visando, por exemplo:
  • Estar aptos a entenderem o risco da automedicação
  • Terem a conduta frente a situação : “adesão farmacoterapêutica
  • Ter uma compreensão melhor a respeito do tema “terapias alternativas”, “uso de medicamentos durante a gestação”.


 

2. Funções e Tarefas

Os Grupos Terapêutico necessitam de uma estrutura mínima no qual fique evidenciado a função que compete ao organizadores da atividade. Um grupo pode ser desenvolvido contando com um Coordenador, Sub-coordenador, Relator, Observador. As funções de cada membro são apresentadas a serguir:

  • Coordenador: Função de coordenar, fomentar e direcionar a comunicação do Grupo, mantendo a linha de debates  no sentido do objetivo traçado.
  • Sub-coordenador (opcional): Auxilia o coordenador, auxiliando o coordenador na função de atingir o objetivo. Trata-se de um olhar extra na condução do Grupo.
  • Relator: Faz o relatório e ata do desenvolvimento do Grupo.
  • Observador (opcional): Auxilia toda a equipe, na condução das atividades

3. Contrato / constituição de regras:

É imprescindível que o Grupo planejado tenha as suas regras definidas, e estas deverão ser apresentadas ao inicio da atividade, sendo clara para todos os participantes. O contrato / regras objetiva a organização da atividade e uma estratégia para não fugir do tema ou objetivo. São exemplo de regras: “perguntas só no final”, “não deveremos expor nossos colegas”, “a apresentação terá um momento de debate”, etc.

O DESENROLAR DE UM GRUPO TERAPÊUTICO: PAPÉIS QUE SE ASSUMEM:

Todo Grupo Terapêutico apresenta uma dinâmica de papéis que lhes são bem comuns. São papeis assumidos pelos componentes que visam o equilíbrio entre a mensagem passada, a receptividade do que esta sendo exposto e a resistência frente ao que esta sendo apresentado de novo ou desafiador. O planejamento do grupo deve contar com este papeis, e antever possíveis situações que tais personagens podem apresentar no desenrolar da atividade.

  • Líder de mudança: é aquele que se encarrega de levar adiante as tarefas, se arriscando diante do novo.
  • Líder de resistência: puxa o grupo pra trás, freia avanços, sabota tarefas e remete o grupo sempre à sua etapa inicial. Os dois são necessários para o equilíbrio do grupo.
  • Porta-Voz: é a chaminé por onde fluem as ansiedades e reivindicações do grupo.
  • Bode expiatório: é aquele que assume os aspectos negativos do grupo; todos os conteúdos latentes que provocam mal-estar, como culpa, medo, vergonha.
  • Os silenciosos: são aqueles que fazem com que o resto do grupo se sinta obrigado a falar, assumindo a dificuldade dos demais para estabelecer a comunicação.

DIFICULDADES DO TRABALHO EM GRUPO

A resistência apresentada por alguns participantes tem muito a ver com o medde mudança que lhe é apresentado. Muitos tendem a viver em uma zona de conforto, e a brusquidão que uma determinada exigência de alteração do comportamento possa criar gera diversos tipos de medos, como:
  • Medo da perda – ansiedade depressiva
  • Medo do ataque – ansiedade paranóide
  • Medo de encontrar-se vulnerável frente a uma nova situação
A técnica recomendada neste caso é mostrar que o novo não é abandonar prazeres, ou valores já adotados, mas sim rever algumas condutas, refletir sobre a mesmas e sobre o que é importante na vida de cada um. Tal processo necessita que o tema seja focado nos aspectos positivos, e no respeito à decisão de quem não quer mudar

RECOMENDAÇÕES FINAIS

Evite usar o “mas”, quando responder a um questionamento ou comentário, porque é muito invasivo e desafiado, utilize sempre “é mais pertinente”...

Evite usar o “entendeu?”. Significa o mesmo que “como não é capaz de?”. Prefira o “ fui claro?”

Valorize sempre a experiência que o outro traz. Lembre-se: tem coisas que a ciência não explica, e nem por isto significa que não são válidas, talvez seja a ciência incapaz de explicar certas coisas...”

Evite fazer exposições longas, o grupo esta ali para se libertar por meio do conhecimento, e não para ser depositário de informações...

Saiba o que interessa o grupo. Falar sobre os valores ótimos de pressão para quem tem a doença a 25 anos deve ser bem chato...

Fuja do foco da prevenção, da doença e direcione o grupo para a PROMOÇÃO A SAÚDE...

Recorde sempre das regras do encontro, Persiga sempre o objetivo do encontro e fale a linguagem do grupo...

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Pereira ALF. As tendências pedagógicas e a prática educativa nas ciências da saúde. Cad Saúde Pública 2003 setembro-outubro; 19(5):1527-34.

Valsecchi EASS, Nogueira, MS. Comunicação professor AL no: Aspectos relacionados ao estágio supervisionado. In: Mendes IAC, Carvalho EC, coordenadores. Comunicação como meio de promover saúde. 7º Simpósio Brasileiro de Comunicação em enfermagem; 2000. junho 5-6; Ribeirão Preto, São Paulo. Ribeirão Preto: FIERP; 2000. p. 99 -103.

Farah OGD. A ansiedade e a prática no processo ensino aprendizagem de habilidades psicomotoras: técnicas de preparo de medicação parenteral. [dissertação]. São Paulo (SP): Escola de Enfermagem/USP; 1996.

Osório LC. Grupos: teorias e práticas - acessando a era da grupalidade. Porto Alegre (RS): Artmed; 2000.

Bechelli LPC, Santos MA. O paciente na psicoterapia de grupo. Rev Latino-am Enfermagem 2005 janeiro-fevereiro; 13(1):118-25.

Guanaes C, Japur M. Fatores terapêuticos em grupo de apoio. Rev Bras Psiquiatria 2001 setembro; 23(3):134-140.

Bechelli LPC, Santos MA. Psicoterapia de grupo: como surgiu e evoluiu. Rev Latino-am Enfermagem 2004 marçoabril; 12(2):242-9.

Mackenzie KR. Time-limited group psychotherapy. Int J Group Psychother 1996; 46(1):41-60.

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