sábado, 26 de fevereiro de 2011

EMBALAGENS E CUSTO DOS MEDICAMENTOS



As embalagens de medicamentos existem para cumprir uma determinação técnica e legal, e que por sua vez acaba agregando um valor ao produto final, que é variável conforme suas necessidades exigidas de tal embalagem, ou o modo como ela é elaborada pela indústria sem considerar as exigência regulatórias mas apenas para cumprir estratégias de publicidade. Tal variação de preço acaba sendo repassada ao consumidor final e ao sistema de saúde quando este realiza a aquisição de medicamentos prevista na assistência farmacêutica.

O questionamento que se faz é que se tal custo adicional – desconsiderando as necessidade técnicas e legais -  é significativo ao bolso do usuário e do sistema e se tal excessos poderiam ser de certa forma coibidos. Um estudo realizado pela Associação Nacional de Farmacêuticos de Portugal (ANF), juntamente com o Ministério da Saúde daquele país concluíram que o usuário gasta em média € 4,00 com embalagens que acabam indo para o lixo. Ou seja, literalmente dinheiro jogado fora. Tal valor é atribuído principalmente ao fato das embalagens ultrapassarem as necessidades dos usuários e as necessidades técnicas exigidas (veja o vídeo acima).

No Brasil ainda não existem estudos a respeito do assunto, porém a presença de embalagens sofisticadas é real. Outro fato que se junto ao tema desperdício é a questão do fracionamento não ter sido efetivamente implementado, levando ao acumulo de medicamentos que não se usa mais nos domicilio, representando desperdício mais uma vez, além de risco para o familia do usuário - via automedicação, ou para o meio ambiente - via descarte inadequado.

É necessário que os farmacêuticos junto as suas entidades representativas debatam este tema, ainda mais em um momento que o co-financiamento ganha força e as premissas do Uso Racional de Medicamentos ganham força dentro do sistema de saúde.

Evitar desperdício de dinheiro, tanto público quanto do usuário também é uma ação em saúde que deve contar com a participação dos farmacêuticos em ambito social.


Luciano Henrique Pinto

domingo, 20 de fevereiro de 2011

FARMACÊUTICO ATUANDO EM GRUPOS DE APOIO TERAPÊUTICO

 
Os medicamentos, apesar de serem utilizados para produzir resultados positivos, se não utilizados de maneira adequada podem trazer danos a saúde. Isto ocorre devido a falhas em farmacoterapia, fenômenos que podem ser, em sua grande maioria, previsíveis e passíveis de prevenção. As intervenções que podem resultar em prevenção destas falhas podem ser feitas individualmente ou coletivamente. A Grupo Terapia tem se mostrado útil em situações em que pessoas apresentam problemas semelhantes, e com seu alcance coletivo, passa a ser uma importante ferramenta nas estratégias de promoção a saúde.

Podemos definir grupo como “um conjunto restrito de pessoas que, ligadas por constantes de tempo e espaço, e articuladas por sua mútua representação interna, se propõem de forma explícita ou implícita à realização de uma tarefa, que constitui sua finalidade, interatuando para isso através de complexos mecanismos de adjudicação* e assunção** de papéis”. Isto reflete principalmente na possibilidade de trocas de experiências sobre um determinado tema, que pode levar ao melhor entendimento de um dado problema, ou o encorajamento para enfrentar uma dada situação, apresentada por uma pessoa que vivencia tal problema, e não apenas pela visão acadêmica  de um profissional da saúde.
*Adjudicação = entregar a outro o que é seu
**Assunção = assumir o que é dos outros para si

CARACTERISTICAS DE UM GRUPO TERAPÊUTICO

Grupos Terapêuticos são reuniões em que a característica principal refere-se às Partes de inter relacionam. São muito mais que um somatório de indivíduos, mas uma identidade com regras próprias e um objetivo comum e que apresenta interação afetiva. Quem lida com grupos tem que ter em mente que o grupo não é local de depósitos de informações, mas sim de construção da cidadania,

TIPOS DE GRUPOS TERAPÊUTICOS

  • Fechado: Não aceita a participação de novos membros, devido a construção de intimidade e identidade forte.
  • Aberto: Qualquer um pode participar
  • Homogêneo: Só admite assuntos relacionados com o propósito que levou a criação do grupo (a doença em comum, por exemplo)
  • Heterogêneos: Aceita qualquer tipo de assunto.

DESENVOLVIMENTO DE TEMAS

  • Expositivo: Somente o apresentador do tema fala do assunto. Recomendado quando se vai abordar um tema mais complexo, que exige uma opinião especializada e livre de mitos ou sensos comum.
  • Psico drama: Representação teatral que pode contar com a participação dos membros do grupo. Recomendada para tratar de assuntos delicados que poderiam constranger alguns membros do grupo.
  • Debate / Intercâmbio: Estimulo ao debate e a troca de experiências. Ideal para a o compartilhamento de pessoas que lidam a muito tempo com determinada doença, e possuem saberes práticos sobre o tema.
  • Dinâmicos / Atividades manuais – motoras: Trabalhos manuais visa promover a diversão e o aprendizado do grupo de uma nova atividade.

PLANEJANDO UM GRUPO TERAPEUTICO NA LÓGICA DOS CUIDADOS FARMACÊUTICO

1. Definição do Tema

O tema pode ser decidido em conjunto ou pelos profissionais. Pode se relacionar com datas comemorativas, acontecimentos recentes, ou fatos marcantes para o grupo, que estejam relacionados ao tema dos medicamentos. Assuntos como adesão, modo correto de utilizar, automedicação são de trato obrigatório nestes grupos.


O planejamento é a etapa crucial para a atividade, e o objetivo deve ser claro e conciso, atendendo as necessidades do grupo. Deve ser elaborado de forma que responda ao seguinte questionamento: Ao final do encontro, os participantes devem obter informações e trocar experiências visando, por exemplo:
  • Estar aptos a entenderem o risco da automedicação
  • Terem a conduta frente a situação : “adesão farmacoterapêutica
  • Ter uma compreensão melhor a respeito do tema “terapias alternativas”, “uso de medicamentos durante a gestação”.


 

2. Funções e Tarefas

Os Grupos Terapêutico necessitam de uma estrutura mínima no qual fique evidenciado a função que compete ao organizadores da atividade. Um grupo pode ser desenvolvido contando com um Coordenador, Sub-coordenador, Relator, Observador. As funções de cada membro são apresentadas a serguir:

  • Coordenador: Função de coordenar, fomentar e direcionar a comunicação do Grupo, mantendo a linha de debates  no sentido do objetivo traçado.
  • Sub-coordenador (opcional): Auxilia o coordenador, auxiliando o coordenador na função de atingir o objetivo. Trata-se de um olhar extra na condução do Grupo.
  • Relator: Faz o relatório e ata do desenvolvimento do Grupo.
  • Observador (opcional): Auxilia toda a equipe, na condução das atividades

3. Contrato / constituição de regras:

É imprescindível que o Grupo planejado tenha as suas regras definidas, e estas deverão ser apresentadas ao inicio da atividade, sendo clara para todos os participantes. O contrato / regras objetiva a organização da atividade e uma estratégia para não fugir do tema ou objetivo. São exemplo de regras: “perguntas só no final”, “não deveremos expor nossos colegas”, “a apresentação terá um momento de debate”, etc.

O DESENROLAR DE UM GRUPO TERAPÊUTICO: PAPÉIS QUE SE ASSUMEM:

Todo Grupo Terapêutico apresenta uma dinâmica de papéis que lhes são bem comuns. São papeis assumidos pelos componentes que visam o equilíbrio entre a mensagem passada, a receptividade do que esta sendo exposto e a resistência frente ao que esta sendo apresentado de novo ou desafiador. O planejamento do grupo deve contar com este papeis, e antever possíveis situações que tais personagens podem apresentar no desenrolar da atividade.

  • Líder de mudança: é aquele que se encarrega de levar adiante as tarefas, se arriscando diante do novo.
  • Líder de resistência: puxa o grupo pra trás, freia avanços, sabota tarefas e remete o grupo sempre à sua etapa inicial. Os dois são necessários para o equilíbrio do grupo.
  • Porta-Voz: é a chaminé por onde fluem as ansiedades e reivindicações do grupo.
  • Bode expiatório: é aquele que assume os aspectos negativos do grupo; todos os conteúdos latentes que provocam mal-estar, como culpa, medo, vergonha.
  • Os silenciosos: são aqueles que fazem com que o resto do grupo se sinta obrigado a falar, assumindo a dificuldade dos demais para estabelecer a comunicação.

DIFICULDADES DO TRABALHO EM GRUPO

A resistência apresentada por alguns participantes tem muito a ver com o medde mudança que lhe é apresentado. Muitos tendem a viver em uma zona de conforto, e a brusquidão que uma determinada exigência de alteração do comportamento possa criar gera diversos tipos de medos, como:
  • Medo da perda – ansiedade depressiva
  • Medo do ataque – ansiedade paranóide
  • Medo de encontrar-se vulnerável frente a uma nova situação
A técnica recomendada neste caso é mostrar que o novo não é abandonar prazeres, ou valores já adotados, mas sim rever algumas condutas, refletir sobre a mesmas e sobre o que é importante na vida de cada um. Tal processo necessita que o tema seja focado nos aspectos positivos, e no respeito à decisão de quem não quer mudar

RECOMENDAÇÕES FINAIS

Evite usar o “mas”, quando responder a um questionamento ou comentário, porque é muito invasivo e desafiado, utilize sempre “é mais pertinente”...

Evite usar o “entendeu?”. Significa o mesmo que “como não é capaz de?”. Prefira o “ fui claro?”

Valorize sempre a experiência que o outro traz. Lembre-se: tem coisas que a ciência não explica, e nem por isto significa que não são válidas, talvez seja a ciência incapaz de explicar certas coisas...”

Evite fazer exposições longas, o grupo esta ali para se libertar por meio do conhecimento, e não para ser depositário de informações...

Saiba o que interessa o grupo. Falar sobre os valores ótimos de pressão para quem tem a doença a 25 anos deve ser bem chato...

Fuja do foco da prevenção, da doença e direcione o grupo para a PROMOÇÃO A SAÚDE...

Recorde sempre das regras do encontro, Persiga sempre o objetivo do encontro e fale a linguagem do grupo...

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Pereira ALF. As tendências pedagógicas e a prática educativa nas ciências da saúde. Cad Saúde Pública 2003 setembro-outubro; 19(5):1527-34.

Valsecchi EASS, Nogueira, MS. Comunicação professor AL no: Aspectos relacionados ao estágio supervisionado. In: Mendes IAC, Carvalho EC, coordenadores. Comunicação como meio de promover saúde. 7º Simpósio Brasileiro de Comunicação em enfermagem; 2000. junho 5-6; Ribeirão Preto, São Paulo. Ribeirão Preto: FIERP; 2000. p. 99 -103.

Farah OGD. A ansiedade e a prática no processo ensino aprendizagem de habilidades psicomotoras: técnicas de preparo de medicação parenteral. [dissertação]. São Paulo (SP): Escola de Enfermagem/USP; 1996.

Osório LC. Grupos: teorias e práticas - acessando a era da grupalidade. Porto Alegre (RS): Artmed; 2000.

Bechelli LPC, Santos MA. O paciente na psicoterapia de grupo. Rev Latino-am Enfermagem 2005 janeiro-fevereiro; 13(1):118-25.

Guanaes C, Japur M. Fatores terapêuticos em grupo de apoio. Rev Bras Psiquiatria 2001 setembro; 23(3):134-140.

Bechelli LPC, Santos MA. Psicoterapia de grupo: como surgiu e evoluiu. Rev Latino-am Enfermagem 2004 marçoabril; 12(2):242-9.

Mackenzie KR. Time-limited group psychotherapy. Int J Group Psychother 1996; 46(1):41-60.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

FALTA DE MEDICAMENTOS PARA DOENÇAS RARAS




Em matéria apresentada no Fantátisco de 13 de fevereiro de 2011, foi mostrado que Laboratórios Farmacêuticos vem suspendendo a produção de certos medicamentos por considerarem estes pouco lucrativos e de pouca saída, uma vez que são indicados para doenças pouco comuns – mas não menos relevantes do ponto de vista clinico. Deixam a entender que o retorno financeiro na produção deste é baixo. Dentro de uma economia de mercado, tal argumento seria plausível caso não estivesse associado a questões que envolvem a saúde das pessoas, que não tem culpa pela situação em que se encontram e pela intervenção do estado na aquisição financeira destes medicamentos. Ou seja, temos o paciente necessitado, o estado que financia, e a indústria que não fornece por questões econômicas.

Como se trata de um caso que envolve a saúde das pessoas - questiona-se: tal recusa em produzir é até que ponto imoral e antiético considerando a atitude profissional dos envolvidos? Refletir sobre esta questão se torna relevante uma vez que tudo indica que não há regulamentação do setor de produção neste sentido, a não ser a lei de mercado financeiro.

Quando se tem um conflito de interesse como o apresentado aqui, faz-se necessário pensar na existência de um interesse maior que ambos, que neste caso seria o bem estar e a saúde dos cidadãos. A saúde é um direito de todos e dever do estado, diz a constituição de 1988, e ao Sistema Único de Saúde, segundo a Lei 8080/90, cabe garantir aos cidadãos a assistência integral em saúde, incluindo a farmacêutica. Mas como assegurar saúde pela assistência farmacêutica se em muitos casos tal assistência esbarra em questões econômicas e financeiras e leis de mercado? Ressalto aqui não só a questão da falta, mas do excesso também, que implica na automedicação desnecessária e na judicialização da assistência farmacêutica por pressão dos laboratórios farmacêuticos que não respeitam diretrizes como a Relação de Medicamentos Essenciais (RENAME) no Brasil.

Tem-se até obtido avanços neste sentido, mas há ainda muito que fazer, uma vez que a máxima que impera é a do “o que não é proibido é permitido”, subvertendo toda a lógica da ética daqueles que trabalham com saúde.

Mas voltando a questão específica da não produção de certos medicamentos, levanta-se questão: Se o código de ética médica e código civil prevêem sanções para os que omitem socorro, porque não pensar forma similar para quem suspende a produção de medicamentos colocando em risco a vida de pacientes? Eis uma questão a se pensar em termos de regulamentação também...


Luciano Henrique Pinto



quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS NO BRASIL






INTRODUÇÃO

O Brasil tem uma tradição recente de participação mais efetiva do Estado na regulação do consumo e produção de medicamentos, e historicamente o medicamento promove um encanto e fascínio em relação a seu uso – fato este demonstrado por diversos estudos. Entretanto, a indústria farmacêutica, no encalço deste encanto e fascínio, sempre busca lançar novos produtos e vender a ideia de que quanto mais novo, melhor o medicamento. Notadamente o mais novo quase sempre é o mais oneroso para o consumidor e mais lucrativo para a empresa. Na prática, o lançamento de novos produtos farmacêuticos não se traduz obrigatoriamente em eficácia ou segurança, como apontam os estudos e alguns acontecimentos envolvendo o uso de medicamentos (Figura 1). Surge a partir daí a necessidade de buscar evidências científicas sobre determinado produto, a fim de assegurar sua eficácia e segurança a custos aceitáveis.

Figura 1

PRINCIPIOS BÁSICOS DO USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS

Uma premissa básica do URM é a busca de evidências científicas, obtidas a partir de fontes confiáveis, que atestem as características desejadas de um medicamento: sua eficácia comprovada, a segurança assegurada e acessibilidade de custo para o paciente ou sistema de sáude.

A implementação do URM parte de três principio básico: I - a seleção criteriosa de informações relevantes - com uso de fonte de informações confiáveis e não influenciadas por interesse comerciais ou de patrocinadores, II - a seleção de informações técnicas científicas para dadas situações clínicas (farmacodinâmica, farmacocinética e farmacoclínicas), e III - qualidade das evidências sobre determinado medicamento (disponibilidade de meta-análise, ensaios clínicos randomizados, etc)

Dentro da lógica do URM, um ensaio clinico randomizado, duplo cego, controlado por placebo supera de longe a opinião de um único especialista e sua experiência clinica. A força de evidência para a ação de um medicamento depende da qualidade e da origem de sua fonte de informação. A promoção do URM permite a eleição do “Medicamento I”, que são o conjunto de medicamentos selecionados para uma dada situação clínica, escolhido segundo critérios de evidência e classificados de acordo com o grau de recomendação adotado (Figura 2):

Figura 2

O USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS, A SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS E O USO DE RECURSOS FINANCEIROS.

Quando se trata de um sistema público de saúde, ou qualquer outro ambiente onde os recursos financeiros devam ser tratados adequadamente – como hospitais, a racionalização do uso de recursos deve estar em pauta. Primeiramente é importante esclarecer quanto ao uso do termo “racional” e as confusões que ocorrem por questões de sinonímias. Alguns profissionais acabam confundidos com o termo “racional” com “racionar”, o primeiro se refere às medidas adotadas baseadas na razão ou nas evidências, e o segundo ao controle de recursos ou bens de serviços. Desta forma, o Uso Racional de Medicamento (URM) se fundamenta no uso baseado na razão, na inteligência dos fatos envolvidos, buscando promover o uso de medicamentos que tenham evidencias científicas que assegurem a sua segurança e efetividade a custos aceitáveis, e não promover a distribuição controlada.

A IMPORTÂNCIA DO URM PARA A ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

Várias são as condições que apontam para o aumento das Morbidades Relacionadas aos Medicamentos (MRMs), situações estas que são precedidas por problemas de saúde vinculados a farmacoterapia, que possuem diversas causas, sendo a maioria previsível e evitável. Trata-se de um fenômeno crescente e que necessita ser enfrentado por ser uma questão social importante dentro da saúde pública como um todo. Uma forma de enfrentar as MRM´s passa pelo URM, que também colabora para questões de cunho econômico. Desmistificar alguns equívocos e fortalecer o URM fortalece a AF como um todo, em todos seus aspectos.

OS LIMITES DO URM E O FENÔMENO DA JUDICIALIZAÇÃO.

Diante da ampla disponibilidade de especialidades farmacêuticas no mercado, e dos diferentes perfis de evidências dos medicamentos – além da pressão comercial da indústria farmacêutica, faz-se necessário selecionar aqueles que atendam os objetivos do URM: segurança e efetividade evidentes, dentro de uma margem de custo adequada. Esta seleção atende em média 90% dos casos indicados, e cerca de 10% da população pode não se beneficiar com e elenco de medicamentos selecionados pela prática do URM. Estes casos são as exceções, que podem ocorrer a qualquer momento. O ideal é que somente nestes casos a solicitação de medicamentos via caráter judicial se justificasse, fato comprovado pela falha no uso dos medicamentos já selecionados, o que atestaria a necessidade. O grande problema é que, pela falta de entendimento sobre os fundamentos do URM, muitos profissionais acabam criticando o sistema de saúde, e muitos usuários acabam por recorrem a justiça solicitando um medicamento que poderia ser substituído por um presente na lista de medicamentos padronizados, alegando que o tal medicamento requerido é de preferência de seu médico. Ainda conta-se com o risco de tal medicamento solicitado não ter evidência comprovada quanto à efetividade e segurança.

O enfrentamento de tal problema passa pelo entendimento e conscientização dos profissionais de saúde na defesa do URM, esclarecendo seus princípios e objetivos, e que os casos de exceção sejam tratados como tal, e que as condutas nestas situações sejam protocolares, a fim de se evitar que exceções virem regras. E que os protocolos já existentes sejam cumpridos, uma vez que se originaram a partir das premissas do URM.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Assistência Farmacêutica e o Uso Racional de Medicamentos devem ser entendidos de maneira mais fundamentada, de forma que os profissionais envolvidos fiquem sensibilizados e possuidores do perfeito entendimento desta política dentro do contexto do SUS. Alguns mitos fomentados pela publicidade da indústria farmacêutica devem ser desfeitos e que conceitos apoiados na razão devem ser mais fomentados na formação e na capacitação dos profissionais da área da saúde. O que se percebe é que o entendimento sobre a assistência farmacêutica às vezes permeia a questão puramente logística de abastecimento, e regulamentadora – num sentido quase que financeiro apenas. Promover o Uso Racional de Medicamentos, desde que seja entendido o seu verdadeiro conceito e fundamento é essencial para um Farmacêutico.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

PRÁTICA DO ACONSELHAMENTO FARMACÊUTICO






INTRODUÇÃO

Os medicamentos constituem uma ferramenta poderosa para mitigar o sofrimento humano, porem seu emprego for destituído de informações básicas, pode levar a resultados inesperados que podem comprometer a saúde do paciente. A prática do Aconselhamento Farmacêutico não pode ser considerada apenas como a troca de mercadorias por receitas. Tão importante quanto o medicamento, a informação de como utilizá-lo cumpri um papel fundamental e nunca deve ser omitida. Observa-se atualmente que vários problemas de saúde têm sua origem relacionada ao uso inadequado de medicamentos. Este uso indevido pode levar a doenças indissiocráticas, manifestações de efeitos adversos, não adesão, ou o mau controle de uma enfermidade. Esta situação ocorre basicamente devido à omissão ou a erros durante a dispensação. Um erro de dispensação pode ser definido como a discrepância entre a ordem escrita na prescrição médica e o atendimento dessa ordem, ou a falta de complemento de informações importantes sobre o uso racional do medicamento. São erros cometidos por funcionários da farmácia (farmacêuticos, inclusive) quando realizam o Aconselhamento Farmacêutico de maneira inadequada.

Por meio de uma revisão de vários conceitos atribuídos ao Aconselhamento Farmacêutico e a análise dos termos empregados, é possível definir quais seriam os objetivos da Dispensação, qual a metodologia para empregá-la e quais os seus elementos básicos, tendo como base a o entendimento da farmacologia de diversos medicamentos.

Perante a análise das diversas definições atribuídas ao Aconselhamento Farmacêutico, alguns termos foram destacados por aparecerem com maior freqüência e por atribuírem idéias ambíguas, que dificultavam o entendimento do conceito de Aconselhamento Farmacêutico e qual a maneira de praticá-la e qual o seu objetivo. Os termos destacados foram:

Fornecer: Abastecer, proporcionar o necessário.

Entregar: Passar as mãos ou à posse a alguém.

Informar: Dar informe ou parecer sobre; comunicar; dar noticias..;

Orientar: Dirigir, guiar, caminhar junto. Reconhecer e examinar a situação.

Educar: Promover educação, desenvolver capacidades em outras pessoas.

É de observar-se que alguns termos destoam do principio básico da função farmacêutica em uma farmácia comunitária. Termos como fornecer e entregar dão uma idéia muito limitada da verdadeira função do farmacêutico no ato da dispensação. Dão-nos a impressão que a função deste profissional é apenas deixar o paciente abastecido de medicamentos ou simplesmente entregar uma caixa com medicamentos. O termo informar se torna muito amplo, pois a quantidade e a qualidade das informações dependem de várias circunstâncias. Um exemplo diz respeito aos efeitos adversos. Sabe que uma pequena parte destes efeitos possui risco real de manifestar-se. Muitos pacientes, ao serem informados sobre os efeitos adversos, acham que todos ocorrem na mesma proporção, o que pode dificultar a adesão ao tratamento farmacológico. Entretanto, os termos que mais se aproximariam da verdadeira função do farmacêutico seriam o orientar e educar. O segundo termo chama a atenção para o desenvolvimento de capacidades do paciente, como o auto cuidado, o segundo nos da uma idéia do objetivo da dispensação, que todo farmacêutico deve ter em mente, que é guiar, dirigir o paciente para uma meta, que no nosso caso seria o restabelecimento da sua saúde do paciente.

Deste modo, podemos definir que o objetivo do Aconselhamento Farmacêutico seria o restabelecimento da saúde do paciente, sendo que a forma de se alcançar esta meta seria através do uso de medicamentos. O farmacêutico então deve procurar meios de orientar seu paciente de forma a educá-lo, tornando-o capaz de utilizar corretamente os medicamentos, para que ele obtenha o maior beneficio possível que estes podem oferecer, proporcionando então resultados positivos na sua saúde

Tendo-se em mente qual o objetivo da prática do Aconselhamento Farmacêutico, faz-se necessário definir qual a maneira de praticá-la, como aplicar toda teoria aprendida na fase de estudo e transformá-la em resultados.

Para realizar a prática do Aconselhamento Farmacêutico, é necessário entender o uso racional dos medicamentos, e a maneira que os pacientes percebem os medicamentos. Trata-se do momento em que o farmacêutico passa a ter uma relação direta, face a face com o paciente. Neste momento seu objetivo é educar o paciente para que este obtenha resultados positivos em seu tratamento, o que se traduz em saúde. A não preocupação do farmacêutico com o paciente faz dele um mero vendedor.Sendo assim, este profissional passa a ter o compromisso, junto ao paciente, de reverter o quadro desfavorável em que o paciente se encontra.

A prática do Aconselhamento Farmacêutico requer primeiramente a observação de alguns parâmetros relacionados aos medicamentos e ao paciente, sendo os principais:

CARACTERÍSTICAS DOS USUÁRIOS DE MEDICAMENTOS

O uso de medicamentos é uma prática corriqueira, sendo que em alguns casos até abusiva. Sabe-se que a maioria dos pacientes tem noções sobre os medicamento, sendo que grande parte entende que eles servem para alguma coisa, possuem horários definidos para tomar; podem ser tomado com água, leite, junto com alimentos, causam alguns “efeitos colaterais” ou podem “atrapalhar o efeito de outro remédio”.

Porém, a maioria dos pacientes apresenta questionamento quanto ao uso dos medicamentos, que se não forem respondidas ou informadas, podem interferir nos resultados terapêuticos desejados. No geral, observa-se que a maioria dos pacientes:

O USO RECOMENDADO DE MEDICAMENTOS

O estudo dos medicamentos nos permite ter acesso a algumas informações que por sua vez devem ser trabalhados para que sejam úteis aos pacientes usuários de medicamentos. Quando se estuda farmacologia, observamos que os medicamentos apresentam certar propriedades, tais como:

O não entendimento destas propriedades pode levar a problemas de saúde vinculados a farmacoterapia, como não controle, ou o não alivio de uma enfermidade. Pode ocorrer o agravamento do quadro clinico do paciente ou intoxicações devido ao uso inadequado do medicamento.

A NÃO PRÁTICA DO ACONSELHAMENTO E IMPACTO NA SAÚDE

Muitas vezes, o paciente o desconhece a finalidade do medicamento. Não é raro o paciente associar que o antibiótico indicado seja para sua “dor de garganta”, deixando de usá-lo logo após que este sintoma desapareça, não cumprindo o regime terapêutico determinado. O tempo de uso também traz conseqüências, como no uso de antibióticos, já citadas, que pode levar a um quadro de resistência bacteriana.

Os efeitos adversos também merecem atenção especial, pois muitos são passiveis de atenuação, outros transitórios, e outros até mesmo evitáveis (como efeito rebote da clonidina, quando seu uso é interrompido de maneira abrupta).

O risco de interações deve ser sempre considerado, principalmente com os medicamentos de uso crônico com aqueles de venda livre. Trata-se de uma informação importante a ser passada para o paciente, para evitar descontrole de enfermidades como diabetes e hipertensão arterial.

O farmacêutico também deve ser capaz de realizar atividades na área da educação em saúde, informando sobre os tratamentos não farmacológicos, que irá auxiliar na terapia farmacológica estabelecida, e impedir possíveis interferências ou complicações do quadro clinico do paciente.

O que acontece é que um determinado problema de saúde apresentado pelo paciente pode ter surgido pelo uso incorreto de medicamentos. A ocorrência de muitas enfermidades está vinculada a farmacoterapia estabelecida, sendo em grande parte passiveis de prevenção pela prática adequada do Aconselhamento Farmacêutico.

COMO PRATICAR O ACONSELHAMENTO FARMACÊUTICO

O ato do Aconselhamento Farmacêutico, que tem com objetivo educar o paciente para que ele tenha o restabelecimento de sua saúde, deve ser praticado de forma que o paciente entenda que o medicamento a ser utilizado possui:

  • Finalidade: Serve para algo (controle da pressão arterial, alivio da dor...)
  • Posologia: Quantidade de comprimidos ou volume a ser tomado por vez,
  • Horário apropriado: A que horas tomar - junto ou não com refeições,
  • Tempo determinado de uso,
  • Reações adversas – atenuação,
  • Risco de interações,
  • Tratamento não farmacológico

Lógico que, dependendo da classe de medicamento, varias informações adicionais deverá ser repassada, para o alcance do objetivo proposto. Preparo de suspensões, uso de aerossóis, soluções otológicas entre outras formas farmacêuticas merecem atenção especial quanto à maneira correta de utilizá-los.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prática da Dispensação de Medicamentos exige que o profissional exponha seus conhecimentos, e que analise cada situação em particular. O estudo deste trabalho apontou a existência de sete itens fundamentais (Finalidade, Posologia, Horário apropriado, Tempo de uso, Reações adversas e atenuação, Risco de Interações e Tratamento não farmacológico), que quando repassados ao paciente, impedem o surgimento de situações de morbidade relacionada aos medicamentos. Observa-se que a prática da Dispensação tem se tornado, em muitos casos, automatizada, não lhe atribuindo a dimensão técnica e cientifica que lhe é conferida. Desta forma, deve o profissional se empenhar nesta prática, pois sua omissão pode refletir muito na saúde de quem ele atende. Deve o profissional também sair do foco exclusivo do medicamento, da postura tecnicista e entrar no universo do paciente, afim de criar condições para que este entenda as informações, e possa usufruir das mesmas da melhor forma possível.

REFERENCIAS CONSULTADAS

1-FONTE GUIA, E. A.; et al. Uso indiscriminado de Medicamentos em Farmácias Brasileiras. Revista Brasileira de Medicina. São Paulo, SP. V.78, n.9/10,p.285,2004.

2-MIRANDA, L.Venda indiscriminda de medicamentos e riscos. Estado de São Paulo. São Paulo, 25 abr. 2003.Caderno Geral. P. A7

3-HEPLER CD. The third wave in pharmaceutical education: the clinica movement. Am J Pharm. Educ 1987;53169-85

4-KRYMCHANTOWSKI, A. V.; et al. Perfil de orientação, recomendação e venda de medcamentos para cefália em farmácias brasileiras. Revista Brasileira de Medicina. São Paulo, SP. V.59, n.10/11,p.705,2002.

5-OFICINA DE TRABALHO: “ ATENÇÃO FARMACÊUTICA NO BRASIL”.: TRILHANDO CAMINHOS”. Relacionados da Oficina de Trabalho, Fortaleza, 11 a 13 de setembro de 2001.

6-ORGANIZACION MUNDIAL DE LA SALUDE (OMS). Control y evolucion de los efectos secundários de los medicamentos. Informe del grupo del trabajo del CIOMS. Genebra, 1986:32

7-WORD HEALTH ORGANIZATION (WHO) the Role of the Pharmacist in Self- Care and Self- Medication. Repor of the 4 th WHO. The Role of the 4 th WHO coonsultive Group on the Role of the Pharmacist (WHO/DAP/98.13).