quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O SUS E OS FARMACÊUTICOS



O sistema de saúde no Brasil sempre foi algo controverso, apresentando alguns avanços que estava mais relacionado a interesses econômicos do que a interesses da população propriamente dito.
Pegando a história no período da ditadura (meados dos anos 70 do século XX), tínhamos uma época de um mundo bipolar (em termos de proposta de sociedade), e um país dividido ideologicamente. De um lado os militares, de outro os socialistas.
Por volta de 1975 à ala socialista, ligada a saúde, começava um movimento denominado “Reforma Sanitária”. Acreditavam que a revolução ou qualquer outro caminha para o socialismo se daria pela conquista da população via sistema de saúde descente e universal. Ou seja: a saúde seria um modo de propaganda do socialismo que iria demonstrar ao provo uma nova forma de se organizar em sociedade.
O país caminhava para um processo de democratização “lenta e gradual”, e mesmo com tanto anseio para que a democracia voltasse – via Diretas Já – a eleição de 1984 para presidente seria indireta. De um lado estava Maluf, apoiado pelos militares, de outro Tancredo Neves. Como a eleição era feita pelos deputados, era preciso convencê-los a apoiar Tancredo, e este fez diversos acordos, sendo um dos principais: “Se a ala da saúde, da Reforma Sanitária me apoiar e votar em mim, quando eu solicitar uma nova constituição para o país, as questões de saúde serão tocada só por vocês!”. Diante de tal proposta, os socialistas se empolgaram, pois acreditavam que criando um sistema de saúde nos moldes SOCIALISTA, iriam cumprir a missão de propagar os benefícios deste sistema a população, e o caminho para a sociedade socialista no Brasil se daria tranquilamente...
Tancredo é eleito, Tancredo morre, assume Sarney e cumpre-se o acordo. Na nova constituição, a saúde tem um molde totalmente socialista. E tinha de ser naquele momento, naquele acordo. Não podia ser  como no Canadá, onde para construir um sistema de saúde mudou-se primeiro a formação em saúde. Tinha que vir primeiro o sistema de saúde. O resto corrigiria depois. Mas... o muro de Berlim cai, a URSS se dissolve, o comunismo acaba, o socialismo fica abalado, o capitalismo impera... E o que aconteceu com nosso SUS: virou uma ILHA SOCIALISTA NUM MAR CAPITALISTA. Exemplo para nós: Temos que assegurar assistência farmacêutica integral a todos os brasileiros. Mas como garantir acesso a medicamentos num país e num mundo onde a competição econômica, a busca desenfreada de lucros faz com que o imperativo comercial seja o principal foco? Todo mundo tem direito de conseguir medicamento, então porque não posso levar minha Aspirina Ultra Prevent Revestida que o laboratório acabou de lançar? Ou seja: O desejo de lucro sufoca nosso sistema, pois o médico que vê a propaganda da tal Ultra Aspirina quer prescrevê-la, o paciente a quer também, mas o Sistema não consegue arcar com todos os medicamentos, senão vai à falência. Daí que entra nosso papel, de promover o Uso Racional de Medicamentos, selecionando aqueles mais viáveis do ponto de vista clinico e economicamente viável (não os mais baratos). E isto vale para todas as áreas do Sistema Único de Saúde, e não apenas na área farmacêutica.
Bom, daí que temos que equacionar estes problemas, de termos um SUS social e não comercial, e fazer com que os outros entendam sobre isto. E sem contar nossa formação, somos formados para “abrir farmácias”, “ter laboratórios de analises”, e bom pouco aprendemos sobre o SUS. Daí vem o desanimo, a sensação de estar “estranho no ninho”.
Independente de questões ideológicas (socialistas ou capitalistas), a questão do acesso a saúde deve ser priorizada e defendida com um dever do estado para com seu povo. Aparar as arestas e construir uma “ponte” entre a ilha socialista e a realidade capitalista é o nosso principal papel, mas sem abdicar nunca de conquistas como os princípios básicos do SUS. Entender isto é importante para entendermos as legislações, as brigas, os desentendimentos e outros fatores.
E no caso de nós, Farmacêuticos, nem precisa dizer o tamanho da responsabilidade, visto que temos de defender o Uso Racional e as legislações que os tornam reais...

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